O longa de Petra Costa "Democracia em Vertigem" é um dos indicados ao Oscar 2020 de melhor documentário. A indicação, que deveria ser festejada pelos brasileiros, transformou-se num campo minado de opositores políticos. Para além da crítica cinematográfica, alguns comentários tentam desqualificar a cineasta e a qualidade do filme realizado.
A construção narrativa de "Democracia em Vertigem" incomoda muitos. Não apenas porque ela documenta os fatos que culminaram no golpe de 2016 contra a Presidente Dilma Roussef, do PT, mas porque faz uma análise do jogo político por trás dos bastidores. Mostra a política brasileira como um jogo de traição, quase uma tragédia grega. Conclui que nossa democracia está doente, pois vem sendo atacada a partir de seus alicerces, sem que a maioria da população perceba. No Brasil, mantém-se o formalismo das instituições, mas esvazia-se seu significado e conteúdo.
A cineasta faz uma análise minuciosa, trabalhando o factual e o simbólico, repetindo trechos, enfatizando o verbal e o não verbal, o dito e o não dito. Mostra a dinâmica dos discursos, dentro de diferentes contextos, a encenação e o simulacro de certos atores políticos. A retórica inflamada contra a corrupção, em defesa da legalidade e da constitucionalidade, que muda radicalmente a partir do jogo de interesses. A manipulação das crenças religiosas como base doutrinária para uso político.
Formada em Antropologia, no Barnard College, uma faculdade livre de Artes da Columbia University, em Nova Yorque, e com mestrado em Comunidade e Desenvolvimento, na London School of Economics, em Londres, Petra constrói uma narrativa analítica do atual momento político com base na formação do nosso sistema de governo. Relembra as origens de uma nação fundamentada nas oligarquias. E ressalta que o Brasil nunca deixou de ser uma república de famílias que, sucessivamente, controlam o poder político e jurídico, a mídia, os bancos, a terra e os demais meios de produção.
A cineasta faz uma análise minuciosa, trabalhando o factual e o simbólico, repetindo trechos, enfatizando o verbal e o não verbal, o dito e o não dito. Mostra a dinâmica dos discursos, dentro de diferentes contextos, a encenação e o simulacro de certos atores políticos. A retórica inflamada contra a corrupção, em defesa da legalidade e da constitucionalidade, que muda radicalmente a partir do jogo de interesses. A manipulação das crenças religiosas como base doutrinária para uso político.
Formada em Antropologia, no Barnard College, uma faculdade livre de Artes da Columbia University, em Nova Yorque, e com mestrado em Comunidade e Desenvolvimento, na London School of Economics, em Londres, Petra constrói uma narrativa analítica do atual momento político com base na formação do nosso sistema de governo. Relembra as origens de uma nação fundamentada nas oligarquias. E ressalta que o Brasil nunca deixou de ser uma república de famílias que, sucessivamente, controlam o poder político e jurídico, a mídia, os bancos, a terra e os demais meios de produção.
Na história do cinema nacional, poucos filmes brasileiros concorreram ao Oscar. Desde a primeira indicação brasileira, em 1963, com a ficção "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte (e que ganhou a Palma de Ouro em Cannes), foram ao todo 15 filmes, entre curtas e longas, incluíndo co-produções, que representaram o Brasil. Desses, apenas cinco documentários foram indicados ao Oscar: a co-produção belgo-franco-brasileiro"Raoní" (1973), de Jean-Pierre Dutilleux e Luiz Carlos Saldanha, sobre a vida do líder indígena brasileiro Cacique Raoní; a co-produção "El Salvador: Another Vietnam" (1982), da brasileira Tetê Vasconcellos e do norte-americano Glenn Silber; Em 2011, a co-produção anglo-brasileira "Lixo Extraordinário", de João Jardim, Lucy Walker e Karen Harlen; em 2015, "O Sal da Terra", produção franco-ítalo-brasileiro, dirigida por Win Wenders e Juliano Ribeiro Salgado; e, finalmente, em 2020, "Democracia em Vertigem", de Petra Costa.
Petra Costa, os produtores do filme e os convidados, Sonia Guajajara e Lawrence Bender. |
Para aqueles que negam o golpe de 2016, o filme de Petra é visto como um documentário de ficção, como se ficção fossem os acontecimentos ali reportados. E ainda que muitos partidários da direita admitam e o próprio ex-presidente Michel Temer tenha reconhecido o golpe publicamente (Programa Roda Viva da TV Cultura, exibido em 16/09/2019), a grande maioria tenta negá-lo. A tentativa de desqualificar o documentário de Petra, e a figura pública da própria cineasta, é uma reação desastrosa que apenas revela o quanto o filme incomodou a extrema-direita, principalmente pela projeção internacional que o documentário vem conquistando.
A indicação de "Democracia em vertigem" de Petra Costa deveria ser motivo de orgulho para todos os brasileiros. Os ataques agressivos e rasteiros, principalmente daqueles que representam a grande mídia, só mostram o quanto Petra acertou em seu trabalho. Num país onde a reflexão vem sendo censurada, em que grande parte da imprensa parece ter esquecido da ética e da responsabilidade do fazer jornalístico, um trabalho documental como o de Petra, que procura desvelar algumas máscaras, realmente não deve agradar. Toda crítica precisa ser responsável, fundamentada e respeitosa com o artista. Tudo o que foge a isso não pode ser considerado como crítica e muito menos uma opinião jornalística.
Leve ou não o Oscar 2020,"Democracia em vertigem" de Petra Costa já é um filme vencedor.
Elisabete Estumano Freire.
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