Grande vencedor do prêmio do Júri (prêmio FIPRESCI) do 70º Festival de Cannes 2017, "120 batimentos por minuto" é um filme sobre a luta contra a AIDS e o ativismo do movimento LGBT. Dirigido por Robin Campillo, o longa é ambientado na Paris do inicio dos anos 1990, acompanhando as ações do grupo "Act Up Paris", uma ong voltada para os direitos dos soropositivos e minorias, quando a política de saúde pública francesa não adotava medidas mais eficazes na prevenção e no tratamento da epidemia.
O longa retrata a militância política do grupo, que desenvolvia diferentes tipos de ações políticas, como passeatas nas ruas, panfletagem nas escolas e distribuição de preservativos e seringas. Eles também realizavam intervenções em palestras, debates e coquetéis de políticos e empresários dos maiores laboratórios farmacêuticos da França, responsáveis pelos testes e produção de novos antirretrovirais para o tratamento dos pacientes infectados pela AIDS. O filme também mostra as atividades de mobilização social contra o preconceito referentes ao direito de gênero, sexualidade (LGBT) e inclusão social, no tratamento de viciados em drogas, prostitutas, hemofílicos e estrangeiros.
Eles pressionavam o Estado e os grandes laboratórios franceses a divulgar o resultado dos exames dos soropositivos com as novas drogas antirretrovirais, exigindo a liberação de medicamentos inibidores de protease. Apesar do crescimento da epidemia, o tratamento dos soropositivos na França, no início da década de 1990, era muito deficiente. Os ativistas denunciavam o descaso dos laboratórios que demoravam a liberar os medicamentos e ocultavam as informações sobre os testes de novos antirretrovirais forçando o grupo a desenvolver ações políticas cada vez mais agressivas.
"120 batimentos por minuto" é uma espécie de documentário ficcional. Segundo Robin Campillo, o roteiro foi escrito em parceria com Phillipe Mangeot, resultado de suas memórias e experiências pessoais. Os dois roteiristas participaram ativamente das ações políticas do "Act Up Paris" na década de 1990, na luta ao acesso à informação preventiva e ao tratamento digno dos homossexuais soropositivos, assim como de todos os indivíduos marginalizados pela sociedade.
Partindo do ponto de vista dos membros do grupo, o cineasta reconstrói a dinâmica do modus operandi do ativismo do "Act Up Paris". As discussões acaloradas, o planejamento das ações, confrontos externos e conflitos internos. Com uma câmera nervosa, ágil, na mão, Campillo traz o espectador para o centro nervoso da organização, que nem sempre estava coesa em relação às formas de atuação política. Para todos os integrantes era urgente a mobilização da imprensa e da opinião pública para pressionar o Estado e os grandes laboratórios sobre a situação dos soropositivos e o avanço da epidemia.
Em entrevista à imprensa, Campillo revelou que, durante os anos 1980, vivia aterrorizado pelo fantasma do vírus da AIDS ao ver seus amigos morrerem e imaginar que também estaria infectado. Ingressou na organização em 1992, transformando o medo, a raiva, a sexualidade e a doença em força política.
A experiência pessoal de participar do movimento e a sensação de viver no limbo entre a vida e a morte repercutiria nos filmes do cineasta. Les Revenants (2004), em que os mortos regressam, e Eastern Boys (2013), de temática gay, em que estranhos invadem a casa de um homem, também exploram o sentimento de perigo e do limite da vida.
Finalmente em "120 batimentos por minuto" (2017), Robin Campillo revela
a metamorfose pessoal que sentiu nos três anos que participou intensamente do "Act Up Paris". Essa transformação é representada cinematograficamente na relação entre os personagens principais da história, Nathan (Arnaud Valois) e Sean (Nahuel Pérez Biscayart). De um começo tímido, performático, de observador silencioso, surge uma relação que se desenvolve lentamente até se revelar intensa, apaixonada. Outros personagens, que também pertencem a esse universo, ganham destaque na narrativa, como os combativos Thibauld (Antoine Reinartz) e Sophie (Ádele Haenel), que participam da liderança do movimento.
O filme não é apenas um registro das memórias do ativismo do "Act Up Paris" na defesa da vida e do direito dos soropositivos ao tratamento digno. Carrega uma dose de poesia em meio a tragédia da epidemia e da urgência de manter a vida. A batida frenética da música eletrônica que embala os personagens traz a sensação que cada momento deve ser vivido intensamente. É também uma luta contra o preconceito da sociedade à comunidade LGBT e o descaso do Poder Público para com os direitos fundamentais dos indivíduos, que devem ser respeitados independentemente de cor, nacionalidade, gênero, credo e opção sexual.
Elisabete Estumano Freire.
* Veja também http://www.cabinedecinema.com/2018/01/120-batimentos-por-minuto.html
Eles pressionavam o Estado e os grandes laboratórios franceses a divulgar o resultado dos exames dos soropositivos com as novas drogas antirretrovirais, exigindo a liberação de medicamentos inibidores de protease. Apesar do crescimento da epidemia, o tratamento dos soropositivos na França, no início da década de 1990, era muito deficiente. Os ativistas denunciavam o descaso dos laboratórios que demoravam a liberar os medicamentos e ocultavam as informações sobre os testes de novos antirretrovirais forçando o grupo a desenvolver ações políticas cada vez mais agressivas.
"120 batimentos por minuto" é uma espécie de documentário ficcional. Segundo Robin Campillo, o roteiro foi escrito em parceria com Phillipe Mangeot, resultado de suas memórias e experiências pessoais. Os dois roteiristas participaram ativamente das ações políticas do "Act Up Paris" na década de 1990, na luta ao acesso à informação preventiva e ao tratamento digno dos homossexuais soropositivos, assim como de todos os indivíduos marginalizados pela sociedade.
Partindo do ponto de vista dos membros do grupo, o cineasta reconstrói a dinâmica do modus operandi do ativismo do "Act Up Paris". As discussões acaloradas, o planejamento das ações, confrontos externos e conflitos internos. Com uma câmera nervosa, ágil, na mão, Campillo traz o espectador para o centro nervoso da organização, que nem sempre estava coesa em relação às formas de atuação política. Para todos os integrantes era urgente a mobilização da imprensa e da opinião pública para pressionar o Estado e os grandes laboratórios sobre a situação dos soropositivos e o avanço da epidemia.
Em entrevista à imprensa, Campillo revelou que, durante os anos 1980, vivia aterrorizado pelo fantasma do vírus da AIDS ao ver seus amigos morrerem e imaginar que também estaria infectado. Ingressou na organização em 1992, transformando o medo, a raiva, a sexualidade e a doença em força política.
A experiência pessoal de participar do movimento e a sensação de viver no limbo entre a vida e a morte repercutiria nos filmes do cineasta. Les Revenants (2004), em que os mortos regressam, e Eastern Boys (2013), de temática gay, em que estranhos invadem a casa de um homem, também exploram o sentimento de perigo e do limite da vida.
Finalmente em "120 batimentos por minuto" (2017), Robin Campillo revela
a metamorfose pessoal que sentiu nos três anos que participou intensamente do "Act Up Paris". Essa transformação é representada cinematograficamente na relação entre os personagens principais da história, Nathan (Arnaud Valois) e Sean (Nahuel Pérez Biscayart). De um começo tímido, performático, de observador silencioso, surge uma relação que se desenvolve lentamente até se revelar intensa, apaixonada. Outros personagens, que também pertencem a esse universo, ganham destaque na narrativa, como os combativos Thibauld (Antoine Reinartz) e Sophie (Ádele Haenel), que participam da liderança do movimento.
O filme não é apenas um registro das memórias do ativismo do "Act Up Paris" na defesa da vida e do direito dos soropositivos ao tratamento digno. Carrega uma dose de poesia em meio a tragédia da epidemia e da urgência de manter a vida. A batida frenética da música eletrônica que embala os personagens traz a sensação que cada momento deve ser vivido intensamente. É também uma luta contra o preconceito da sociedade à comunidade LGBT e o descaso do Poder Público para com os direitos fundamentais dos indivíduos, que devem ser respeitados independentemente de cor, nacionalidade, gênero, credo e opção sexual.
Elisabete Estumano Freire.
* Veja também http://www.cabinedecinema.com/2018/01/120-batimentos-por-minuto.html
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