O filme dirigido por Mariana Rondón é uma co-produção da Venezuela/Argentina/Peru/Alemanha.
O Cineclube Sala Escura – Sessão Latina inicia as suas atividades no Cine Arte UFF com um dos mais premiados longas venezuelanos dos últimos anos. O filme "Pelo Malo" (2013), dirigido por Mariana Rondón, que será exibido no dia 10 de Março (quinta-feira), às 20hs, no Cine Arte UFF ( Rua Miguel de Frias,9 - Icaraí/Niterói). A sessão especial será seguida de debate com os pesquisadores Ana Luiza Schuchter (UFF) e Daniel Vieira Silva (UERJ).
Júnior é um menino de nove anos que mora com sua mãe, Marta, e o seu irmãozinho de meses de idade em um gigantesco conjunto habitacional em Caracas. Júnior tem o “cabelo ruim” (pelo malo), como popularmente se fala, e, por isso, tenta alisá-lo a todo custo para que apareça bonito na foto da turma que irá ser tirada na escola. Seu plano é ficar parecido com um cantor da moda e, por isso, terá sérios desentendimentos com a sua mãe. Finalmente, Júnior é obrigado a tomar uma dolorosa decisão. Pelo malo foi vencedor de mais de quarenta e cinco prêmios, entre eles, a Concha de Ouro de Melhor Filme em San Sebastián e Astor de Prata de Melhor Direção em Mar del Plata.
Este é um filme que realiza um retrato cru da sociedade venezuelana, sendo possível ser lido em várias camadas. Em suma, é um filme que aborda questões sociais, raciais e, sobretudo, de gênero. Inicialmente, a trama se passa em um conjunto habitacional de Caracas, inicialmente chamado Urbanización 2 de Deciembre, um dos marcos da arquitetura modernista na Venezuela. Construído durante a ditadura do general Marcos Pérez Jiménez (1952-1958), é considerado um símbolo do projeto desenvolvimentista de país sob um regime de exceção. Após a queda do ditador, é rebatizado de Urbanización 23 de Enero, data da deposição do tirano. Com o passar dos anos, o conjunto habitacional modificou-se drasticamente, apesar de seu nome ainda estar associado à política habitacional da ditadura, movida pela lógica de remoção de favelas sob um discurso de modernização da capital do país. Em 1989, a Urbanización 23 de Enero foi um dos primeiros focos de distúrbio e saques durante o “Caracazo”, onda de levante popular contra o governo neoliberal de Carlos Andrés Pérez, que provocou 276 mortes e inúmeros feridos, segundo dados oficiais (em dados extraoficiais, o número de mortos e desaparecidos chega a 2.300 pessoas).
Soma-se, a esse ambiente urbano, um instigante debate de gênero, pois Júnior se vê interpelado duramente por sua mãe, que sozinha é obrigada a criar seus dois filhos em um ambiente de trabalho totalmente masculino. De modo duro, Marta questiona a vontade de Júnior em alisar o cabelo, ao tomar como referência cantores populares de música romântica. Sente-se preocupada com o futuro de seu filho, tornado-se ríspida com ele. Por sua vez, a avó de Júnior estimula esses anseios de Júnior e, aparentando ser uma pessoa mais carinhosa e compreensiva, no fundo transparece ser manipuladora e preocupada com a sua própria velhice, uma vez que sua filha Marta está às voltas com as adversidades de seu dia a dia de mãe solteira em jornada dupla de trabalho. Em um lar cada vez menos afetuoso, Júnior subitamente se vê interpelado por questões até então desconhecidas para ele. Dolorosamente, é submetido a um rito de passagem ao ser obrigado a se inserir em seu lugar de homem, negro e pobre em uma sociedade refratária aos desvios sócio-comportamentais.
Pelo Malo
Venezuela/Peru/Argentina/Alemanha, 2013
93min, Cor, Legendas em Português
Direção e Roteiro: Mariana Rondón
Produção e Montagem: Marité Ugás
Fotografia: Micaela Cajahuaringa
Direção de Arte: Matías Tikas
Design de Som: Lena Esquenazi
Música: Camila Froideval
Elenco: Samuel Lange, Samantha Castillo, Beto Benites, Nelly Ramos, María Emilia Sulbarán, Marta Estrada
Mariana Rondón nasceu em Barquisimeto, em 1966. Após estudar Animação em Paris, se forma na primeira turma da Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV), em San Antonio de los Baños, em Cuba. Nos anos 1990, é uma das fundadoras da produtora Empresa Multinacional Andina Sudaca Films, ao lado da peruana Marité Ugás, sua ex-colega de estudos na EICTV. A partir de então, as duas fazem uma sólida e profícua parceria: as duas alternam direção e produção em projetos em comum. Em 2007, dirige o seu primeiro longa-metragem Postales de Leningrado, de caráter autobiográfico (os pais de Rondón foram guerrilheiros das FALN). Pelo malo é seu segundo longa. Atualmente, produz o filme Contacto, dirigido por Marité Ugás. Além de diretora, roteirista e produtora, Rondón também é artista plástica. Seu projeto de robótica Llegaste con la brisa foi exibido em Caracas, Cidade do México, Puebla, Gijón, Lima, Santiago e Pequim. Recentemente, trabalha na instalação interativa Superbloques.
SESSÃO SEGUIDA DE DEBATE
Após a exibição do filme Pelo malo, ocorrerá um debate com os pesquisadores Ana Luiza Schuchter e Daniel Vieira Silva.
Ana Luiza Schuchter é Bacharel em Produção Cultural pela UFF. Atualmente, é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes (PPGCA-UFF) e professora estagiária da disciplina "Práticas Artísticas e Questões de Gênero", no Curso de Artes do IACS-UFF.
Daniel Vieira Silva é Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas (PPGECC-UERJ). Possui graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, é professor e coordenador pedagógico do curso de Educação de Jovens e Adultos da ESPJV/FIOCRUZ e professor da Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu.
O Cineclube Sala Escura é uma atividade de extensão da Plataforma de Reflexão sobre o Audiovisual Latino-Americano (PRALA), vinculada ao Laboratório de Investigação Audiovisual (LIA) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Fonte: Fabián Núñez - Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense. Departamento de Cinema e Vídeo. Plataforma de Reflexão sobre o Audiovisual Latino-Americano.Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual
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