quarta-feira, 8 de maio de 2019

Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles falam sobre 'Bacurau' ao Cinejornal do Canal Brasil


Na edição do dia 6/5, do “Cinejornal” do Canal Brasil, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles conversaram sobre “Bacurau” com o repórter Julio Cavani. O filme, que concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes este ano, conta a história dos moradores de uma pequena cidade no sertão nordestino que descobrem que, depois da morte da moradora mais velha, o povoado deixou de constar em qualquer mapa. Segue a entrevista, que pode ser assistida a qualquer momento noCanal Brasil Play, transcrita na íntegra.

Julio: Qual o grande significado de estar em Cannes? O filme entrou por que  é bom o tem uma mensagem  importante pro mundo contemporâneo, importante pro cenário atual?
Kleber: Eu não tenho a menor ideia do que levou o festival a selecionar o filme. Só sei que Aquarius teve uma acolhida sensacional em Cannes, uma carreira internacional muito forte, já vinha do Som ao Redor, Barucau existia uma expectativa em torno dele. Apresentamos ao festival e a recepção internamente foi muito boa e foi chamado para competição. Para quem faz cinema autoral, que não faz parte da grande indústria estrear em Cannes é o melhor espaço do mundo

Julio: Como o Sertão é retratado no filme? Por que escolheram essa região para contar essa historia?
Juliano: Pra contar essa história a gente precisava de um lugar isolado. E a gente conhece bem o Sertão e sabe que existem locais isolados. Iniciamos uma pesquisa muito longa e achamos Parelhas, essa cidade que tem um povoado, que se a gente filma de cima, de lado, de outro lado, percebe que é um lugar isolado, visualmente é perfeito para o que a agente precisava. Predomina um sertão verde, mas seco.

Kleber: As pessoas estão acostumadas a sertão seco, seco, mas existe uma mistura ai, que é chamada seca verde, que é verde, mas é seco. É industrializado, mas é rústico. 
Juliano: E pensar que esse lugar estava há 7 anos sem chuva e pouco antes da gente arrumar as malas pra ir começou um sistema de temporais, que mudou completamente a feição do lugar, como se a natureza tivesse explodido. O que é incrível! Era inseto de tudo quanto é tamanho, era preázinha, pássaro, no filme tem isso, ta tudo lá, borboleta, pássaro, tudo vivo correndo pra lá e pra cá.
Julio: Vocês estão divulgando que o filme tem elementos de ficção cientifica. Seria uma ficção cientifica que fala sobre algo que acontece no futuro ou  seria mais um presente alternativo?
Kleber: Eu acho que nós estamos vivendo uma ficção cientifica. Acho que o filme é um pouco sobre isso. Queria fazer um filme que se passe daqui há alguns anos, mas que fosse uma aventura e tivesse um sabor de western, ou pelo menos uma lógica de western. É ao mesmo tempo sobre o Brasil e o mundo. Tem ação e, ao mesmo, tempo, seus dois heróis não são perfeitos, ter um vilão, mas ‘que vilão é esse?’. Essa ideia sempre esteve presente e quando a gente tava filmando sempre tinha sensação de ‘como seria um filme de ação brasileiro?’, ‘o que a gente gostaria de ver?’.

Julio: Vocês trabalharam com o Udo Kier e um grupo de atores americanos, que participaram de filmes de Hollywood, que estão acostumados a trabalhar em outros esquemas de produção. Sentiram alguma diferença no jeito de trabalhar?
Juliano: Não, foi incrível trabalhar com eles. Sintonia total, interação 100%. Tem uma diferença de escola de atuação, mas é uma diferença de escola, mas que funciona tão bem quanto a de brasileiros.
Kleber: Quando você dirige um filme tem que ficar atento a algo muito importante que você não tem como controlar. Você chama um grande artista e precisa ter a sorte desse grande artista vir junto com uma pessoa muito boa, uma grande pessoa. Porque você pode chamar um grande artista que traz uma pessoa muito desagradável, muito chata. Claro que você não faz psicotécnico quando chama um ator e atriz pra trabalhar em seu filme, mas  a gente deu muita sorte em Bacurau, pois juntamos todos no sertão e torcemos para que desse certo. E deu incrivelmente certo. Juntamos atores americanos, com atores locais, com cariocas, com atores da Bahia, João Pessoa, Recife e tudo isso dar certo é algo próximo de um milagre.

Julio: Em 2016, em Cannes, vocês fizeram um protesto que denunciava a situação da democracia brasileira. O momento atual do pais é a conseqüência daquele processo que estava acontecendo?
Juliano: Pra mim é muito obvio que sim.
Kleber: Eu acho que a gente ta num momento muito pior do que eu conseguia imaginar em 2016, quando nossa intenção era informar a imprensa internacional do que estava acontecendo no Brasil naquele momento, mas chegamos num ponto ainda mais grave do que naquela época. O que é lamentável. Um período que começou com o abandono das praticas democráticas e, agora, recentemente, elegeu democraticamente Jair Bolsonaro e, a partir da eleição democrática, a gente ta se distanciando ainda mais de uma ideia de democracia.

FONTE: Thais Farias/ Palavra Assessoria em Comunicação.

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